sexta-feira, 16 de abril de 2010

Pasquale narra a emoção de dirigir o Cinquecento





O velho Fiat 500 italiano de 1957 era um dos automóveis preferidos de seu pai

por PASQUALE CIPRO NETO

O engenheiro Roberto Cipro (meu pai) chegou ao Brasil em dezembro de 1952. Embora a Itália já experimentasse fortíssima recuperação econômica (a Segunda Grande Guerra acabou com tudo por lá), il mio Babbo resolveu vir para o Brasil ("Fazer a América", como se dizia). E por aqui ficou, até o chamado de Deus, em março de 1998.

Meu pai só voltou à Itália em 64. Foi a primeira de muitas viagens que fez até 98. Na viagem de 64, pôde ver com os próprios olhos, "ao vivo", o que já tinha visto em revistas e jornais: o Fiat 500 inundava as ruas da velha Bota. Lançado em julho de 1957, o revolucionário carrinho era a prova viva do forte boom econômico da Itália do pós-guerra (só o boom japonês foi superior ao italiano).

Por aqui, a presença do 500 era rara. Não me lembro de ter visto muitos pelas ruas. Na verdade, era (e ainda é) muito mais comum vê-lo pelas ruas de Buenos Aires e, sobretudo, de Montevidéu (onde também se veem exemplares do clássico Fiat 600).

Na segunda metade desta década, quando a Fiat anunciou a ideia de relançar o 500, minha curiosidade (aliada a minha paixão por automóveis e pelas coisas da Itália) me deixou alerta, à espera da joia rara. Quando vi o novo 500 em jornais e revistas, devo ter sentido algo muito parecido com o que meu querido Babbo sentia antes da viagem de 1964...

Pois o 1964 dele foi o meu 2008. Em minha viagem anual para a Itália, pude ver, "ao vivo", a obra-prima, genuinamente italiana, para meu orgulho e o de meu pai. Parei diante do primeiro exemplar que vi pelas ruas e conversei com mio padre. "Ti sarebbe piaciuto vedere questo vero gioiello, caro Babbo", disse eu comigo mesmo ("Terias gostado de ver esta verdadeira joia, caro Papai").

As pessoas me olhavam de forma estranha cada vez que eu parava diante de um 500 estacionado numa das ruas da minha Milão (onde morei e estudei quando jovem) ou de Roma, cidade de todo terráqueo. "Ma che cosa guarda questo?", deviam pensar ("Mas o que olha esse aí?").

Pois o carrinho chegou ao Brasil. Apesar da indecente pronúncia num comercial do carro (a palavra "cinquecento" é dita do jeito que o Diabo gosta), o novo 500 é apresentado com toda a graciosidade e leveza que de fato tem. É extrato puro, na veia, da criatividade, do desenho e da tecnologia da terra de Giotto e Michelangelo. Modernizadíssimo, o carrinho incorpora todos os principais itens de segurança ativa e passiva (airbags para todos os lados, ABS, ESP etc.) e muito, muito bom gosto no acabamento.

Pois não é que chegou minha vez de andar no novo 500? Pois bem. Fiquei alguns dias com um modelo que tinha câmbio Dualogic. Gostei muito de tudo, ou melhor, de quase tudo. O rodar é macio e silencioso, a posição de guiar é simplesmente perfeita, a direção é levíssima e precisa, o sistema de som original do carro é de primeira, os freios são ótimos, a estabilidade é elevada, o painel é puro charme etc.

E do que foi que não gostei? O motor não é empolgante, o que se deve, em parte, ao câmbio, que provoca alguns engasgos. Depois de algum tempo com o 500 Dualogic, aprende-se a lidar melhor com o câmbio, o que significa recalibrar o movimento e a força do pé direito, sobretudo quando se ativa o modo sequencial da caixa de marchas. Dessa maneira, o desempenho se torna razoável.

Algumas semanas depois de ficar com o Dualogic, guiei, durante cinco dias seguidos, uma unidade com câmbio manual "puro", de seis marchas. A vida melhorou bastante, sobretudo por causa do desempenho desse Cinquecento (ai! _tente dizer algo parecido com "txinqüetxento", com o segundo "e" levemente aberto).

Use e abuse do torque

Nada de soluços ou engasgos, mas também nada de superempolgação com o motor, que, ao fim e ao cabo, é apenas discreto. Se você optar por um 500 manual, não esqueça que ele tem 6 marchas. Use e abuse do bom torque para andar na cidade (no plano) e, com isso, conseguir alguma economia de combustível. Nas subidas, é bom esquecer a economia e apertar logo o botão "sport", para não achar que a rampa não vai acabar nunca.

Feitas as contas, o 500 entrega quase tudo que dele se espera. E, pensando bem, mesmo o desempenho, um tanto acanhado, é adequado à proposta do veículo, que, por causa dos impostos, chega aqui com preço alto e acaba funcionando essencialmente como "carro de imagem". Na Itália e no resto da Europa, o 500 funciona muito mais como um carro de uso mesmo, adequadíssimo ao que se espera de um veículo urbano, confortável e muito, muito seguro. E charmoso, charmosíssimo _charme italiano, legitimamente italiano. O Fiat 500 é extrato de Itália na veia.

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